À Meia-Noite na Terra do Egito
11 Junho, 2014
Após
nove dolorosas pragas, os Egípcios estão prestes a receber um último duro e
fatal golpe. Os primogênitos do Egito, desde Faraó, até ao menor cidadão na
hierarquia daquela sociedade, seriam atingidos.
“E
aconteceu, à meia-noite בַּחֲצִי הַלַּיְלָה chatzot halaylah, que o Senhor feriu a todos os primogênitos na
terra do Egito, desde o primogênito de Faraó, que se sentava em seu trono, até
ao primogênito do cativo que estava no cárcere, e todos os primogênitos dos
animais.” Êxodo 12:29
Apesar
das nove primeiras pragas terem deixado todo império Egípcio à beira da
destruição, mais uma última sentença era necessária para se atingir o objetivo
final de permitir que o povo de Deus saísse em liberdade.
“Então chamou a Moisés e a Arão de
noite, e disse: Levantai-vos, saí do meio do meu povo, tanto vós como os filhos
de Israel; e ide, servi ao Senhor, como tendes dito.” Êxodo 12:31
A
décima praga, se diferencia das demais em diversas e significantes formas, uma
das quais na sua eficiência em atingir a libertação de Israel. Uma outra
importante característica, da última praga do Egito, é realçada pela tradição
oral por ocasião dos cerimoniais da Páscoa Judaica, a Haggadah, que são lidas
na Pesah seder:
“E o Senhor nos tirou do Egito com
mão forte, e com braço estendido, e com grande espanto, e com sinais, e com
milagres;” Deuteronômio 26:8:
“E o Senhor nos tirou do Egito”- não por meio de um anjo, ou qualquer outro
serafim, e também não foi por meio de um mensageiro. Ao invés disso, foi por
meio Dele, o Santo de Israel, abençoado seja, Ele mesmo, em pessoa, assim como
está escrito:
“E eu passarei pela terra do Egito esta noite, e ferirei todo o primogênito na
terra do Egito, desde os homens até aos animais; e em todos os deuses do Egito
farei juízos. Eu sou o Senhor.” Êxodo 12:12 (Pesah Haggadah)
A Morte do Primogênito de Faraó.
À Meia-Noite
E
quando chega o momento da praga final se manifestar, Moisés diz ao povo que ela
começará חצות לילה chatzot halaylah,
traduzido como “à meia-noite”. A própria
tradição oral enumera uma longa lista de milagres e eventos que teriam ocorrido “ba’hatzi halaylah”,
“no meio da noite”.
Uma
narrativa bíblica que se passa à meia-noite é contada no livro de Shoftim, Juízes, capítulo 16, sobre שִׁמְשׁוֹן Shimshon,
Sansão (homem do sol, do dia). É significante dizer que a sua queda foi causada
por uma mulher chamada דלילה Delilah, Dalila, um nome
que parece caracterizá-la como mulher “da noite”.
E
desse padrão não usual de linguagem vemos emergir lições muito valiosas para o
nosso aprendizado. As últimas três pragas enviadas ao Egito têm uma
interessante característica em comum, escuridão, noite.
“Porque se ainda recusares deixar ir
o meu povo, eis que trarei amanhã gafanhotos aos teus termos. E cobrirão a face
da terra, de modo que não se poderá ver a terra;” Êxodo 10:4-5
“Porque cobriram a face de toda a terra, de modo que a terra se escureceu;”
Êxodo 10:15
Quando
os gafanhotos foram enviados ao Egito, eles cobriram a terra de tal foma que
houve escuridão. E praga seguinte, a nona, aprofundou ainda mais a escuridão
sobre os Egípcios:
“E Moisés estendeu a sua mão para o
céu, e houve trevas espessas em toda a terra do Egito por três dias. Não viu um
ao outro, e ninguém se levantou do seu lugar por três dias;” Êxodo 10:22-23
A
décima praga, a morte dos primogênitos, o elemento final que está direta e
intimamente ligada à redenção do povo de Deus, aconteceu à meia-noite - em um
momento simbólico, na hora em que as “trevas reinam”.
Fato
é que Jesus, na parte mais dramática de uma de suas parábolas, a parábola das
dez virgens, usa uma linguagem muito similar a do Êxodo, em que também faz a
ligação entre a redenção final de todos aqueles que creem no seu nome com o
momento em que as trevas estão em toda a sua força:
“Mas à meia-noite ouviu-se um clamor:
Aí vem o esposo, saí-lhe ao encontro. Então todas aquelas virgens se
levantaram, e prepararam as suas lâmpadas.” Mateus 25:6-7
Jesus,
por meio desta narrativa, parecia querer estabelecer este elo com a última
praga do Egito, comparando aquele evento com a sua futura vinda, ocasião em que
se manifestará para salvar os seus discípulos e julgar a humanidade.
Também
é interessante notar que naquela mesma noite os Hebreus estavam vestidos, e com
seus calçados nos pés, e com seus cajados nas mãos, mesmo estando dentro de
suas casas, ou seja, eles estavam preparados, aguardando atentamente o momento
da redenção.
Esta
é uma lição que fala de preparo e vigilância:
“Vigiai, pois, porque não sabeis o
dia nem a hora em que o Filho do homem há de vir.” Mateus 25:13
À Meia-Noite: Eis o Noivo.
Ra - Mal
E
voltando ao Êxodo, vemos que todas as sete primeiras pragas parecem ter
começado durante o dia, não ficando limitadas pelo ciclo dia e noite. Já as
últimas três, ocorrem de forma diferente. E o que haveria de significante na
forma comum que as três últimas pragas teriam entre si?
O
diálogo entre Moisés e Faraó vão nos dar uma maior clareza sobre esse assunto.
Em meio a essas três últimas pragas, que podem ser associadas a três níveis
graduais de escuridão, Moisés exige que Faraó liberte toda a nação Israelita,
tanto os jovens como os idosos.
A
resposta de Faraó precisa ser examinada com atenção.
“E Moisés disse: Havemos de ir com os
nossos jovens, e com os nossos velhos; com os nossos filhos, e com as nossas
filhas, com as nossas ovelhas, e com os nossos bois havemos de ir; porque temos
de celebrar uma festa ao Senhor.”
“Então ele lhes disse: Seja o Senhor assim convosco, como eu vos deixarei ir a
vós e a vossos filhos; olhai que há mal [ הער ra’ah ] diante da vossa face. Não
será assim; agora ide vós, homens, e servi ao Senhor; pois isso é o que
pedistes. E os expulsaram da presença de Faraó.” Êxodo 10:9-11
Faraó
parecia querer avisar Moisés e Arão que a participação de toda a congregação na
celebração de culto ao Senhor, era uma má ideia. A palavra que ele usa para
descrever este evento é הער ra’ah, comumente traduzida como mal.
Algo
muito estranho, pois Faraó nunca tinha se preocupado com o bem-estar dos filhos
de Israel, até aquele momento. Seria esta palavra de Faraó um aviso, ou uma
profecia que antecipava uma terrível calamidade que recairia sobre os hebreus
no deserto?
O
rabino Rashi, em seus estudos, relata uma interpretação, desses versos, que
relaciona a a palavra ra’ah com Ra, o deus sol. Segundo esta interpretação
Faraó seguia uma previsão astrológica que indicava que sangue seria derramado
no deserto, e que a deidade Ra seria vitoriosa no final.
E
esta interpretação parece ser assinalada por Moisés, quando os Israelitas
pecaram no episódio do bezerro de ouro, e Deus ameaçou destruí-los, os
argumentos de Moisés em defesa dos filhos de Jacó fazem referência à mesma
palavra ra’ah, o mesmo mal, ou à mesma deidade Egípcia.
“Por que hão de falar os egípcios,
dizendo: Para mal [בְּרָעָ֤ה be’ra’ah] os tirou, para matá-los nos montes, e
para destruí-los da face da terra? Torna-te do furor da tua ira, e arrepende-te
deste mal contra o teu povo.” Êxodo 32:12
Se
Deus tivesse consumido aquela nação, os Egípcios iriam dizer que ra/Ra os tinha
matado. A previsão de Faraó e seus astrólogos teria dado certo, a sua fé na
vingança do deus sol haveria sido recompensada, os Egípcios clamariam que o seu
deus era mais poderoso.
É
este o argumento que Moisés utiliza para dissuadir Deus de levar a execução da
Sua justiça adiante. Deus aceita a intercessão de Moisés e o povo é poupado.
A Morte dos
Primogênitos
E
é neste contexto que devemos voltar a praga da morte dos primogênitos. Deus
avisa a Moisés que a sentença está a caminho, e acrescenta uma informação
crucial para o nosso entendimento:
“E eu passarei pela terra do Egito
esta noite, e ferirei todo o primogênito na terra do Egito, desde os homens até
aos animais; e em todos os deuses do Egito farei juízos. Eu sou o Senhor.”
Êxodo 12:12
Não
seriam apenas os primogênitos atingidos, mas todos os deuses do Egito que serão
esmagados pelo peso da mão de Deus. Nesse contexto, de fato, é um aspecto
unicamente inerente à décima praga.
As
deidades do Egito foram todas derrotadas: O Nilo era visto como um deus no
Egito, considerado como fonte de vida, sustento e prosperidade. E as três
primeiras pragas atingem diretamente o rio Nilo, algo de tremenda significância
teológica para os Egípcios.
Moisés
uma vez se dirigiu a Faraó em sua capacidade como o “deus do Nilo”. É no
aspecto do poder de Faraó que Moisés foi enviado para falar com ele às margens
do rio Nilo.
Foi
na sua total capacidade como membro do panteão de deuses do Egito que Faraó foi
ameaçado com as pragas, e que ele respondeu invocando o poder de Ra. Ele não era um deus pequeno ou
desconhecido no Egito. Ra era o deus sol, o mais poderoso de todas as deidades
Egípcias.
Por
isso, juntamente com as últimas três, as pragas devem ser entendidas como a
derrota das maiores crenças da religião Egípcia.
Os
gafanhotos tornaram o dia em noite, derrotando o deus sol. Logo em seguida, a
praga das trevas aprofundou ainda mais a escuridão, acabando com o mito do deus
sol completamente. Três dias sem sol, nem luz, arruinando a reputação de Ra.
Agora
a última praga, lança seu ataque à meia-noite. Com a morte dos primogênitos,
Faraó capitula e o povo de Deus é liberto após 430 anos de escravidão. Seja
como for, de dia ou à noite, à meia-noite ou à luz do dia, o Senhor é Deus e
não há outro.
E
Ele há de vir, mesmo que o reino das trevas esteja em toda a sua força, “à meia-noite”.
Ele
prometeu, o noivo chegará, demonstrando que Ele era, e que é o mesmo Deus que
uma vez derrotou os deuses Egípcios (simbolizando os deuses desse mundo) e
tornará a derrotá-los novamente, mas agora de uma vez por todas.
Ele
tem todo o poder. Dia e noite, luz e trevas, são apenas elementos sob o Seu
domínio.
“Eu formo a luz, e crio as trevas; eu
faço a paz, e crio o mal; eu, o Senhor, faço todas estas coisas.” Isaías 45:7
FONTE: http://www.rudecruz.com/estudos-biblicos/antigo-testamento/exodo/a-morte-dos-primogenitos-a-meia-noite-no-egito.php
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