Romanos
6.11-14
.
Introdução:
A
Bíblia diz que o batismo simboliza visivelmente uma realidade invisível, qual
seja o novo nascimento, a realidade do nascimento espiritual. O capítulo 6 da
epístola aos Romanos fundamental para a compreensão deste assunto. O apóstolo
Paulo, em dois momentos, fala acerca dessas realidades simbolizadas pelo
batismo. Em primeiro lugar, nos versos de 1 a 11 o apóstolo fala da nossa união com
Jesus Cristo, da nossa identificação com Ele, simbolizada pelo batismo. Num
segundo momento, o apóstolo fala, nos vs. 13 a 23 sobre o batismo como
simbolizando uma nova relação de poder, uma nova servidão. Na primeira parte,
Paulo fala do batismo numa perspectiva do indicativo, modo que indica algo,
que mostra algo, que revela algo, que aponta para algo. Num segundo momento,
Paulo fala do batismo numa perspectiva imperativa. No indicativo afirma-se
uma realidade, no imperativo comunica-se uma ordem que deve ser obedecida, e
para a qual se espera obediência.
I) O
INDICATIVO
Nos
versos de 1 a
11 Paulo fala na vida cristã no indicativo, isto é, indicando, mostrando,
afirmando uma realidade. No vs. 2 ele diz: estamos mortos para o pecado, no
indicativo. No vs. 3 ele diz: fomos batizados na Sua morte, no indicativo. No
vs. 4 ele diz: fomos sepultados com Ele, isto é, Cristo, no indicativo. No
vs. 5 ele diz: fomos plantados juntamente com Ele na semelhança da Sua morte.
No vs. 6 ele afirma: o nosso velho homem foi com Ele crucificado. No vs. 8,
ele diz: já morremos com Cristo. O batismo é por assim dizer, um funeral. Ele
celebra uma morte. Nós morremos com Cristo, diz Paulo. O batismo não é tanto um
símbolo de uma doutrina, o batismo afirma, mostra e aponta para uma realidade
concreta, esta representação visível daquilo que acontece no interior de algo
invisível. O batismo simboliza a nossa união com Jesus Cristo, a nossa
identificação com Ele. Mas o que vem a significar estar morto para o pecado,
como Paulo afirma aqui, simbolizado então pelo batismo? Que morte para o
pecado é essa? Será que a idéia de Paulo seria que o cristão vive sem pecado?
Que depois dessa experiência da morte em Cristo já não peca mais? A
experiência cristã, a presença dos imperativos bíblicos, além disso, a
afirmação categórica da Bíblia de que não há nenhum justo sequer provam o
contrário. Paulo não está afirmando essa idéia. Mas o que significa então
estar morto para o pecado? Em primeiro lugar é preciso que entendamos que
Paulo fala aqui de uma experiência cristã de todos, comum a todo cristão. No
verso 3 ele diz: ...ou porventura ignorais que todos quantos fomos batizados
em Jesus Cristo, fomos batizados na sua morte?
Em
segundo lugar é importante percebermos que esta experiência, comum a todo
crente, é também aplicada a Cristo. No verso 10 o apóstolo diz, referindo-se
a Jesus: ...pois, quanto a ter morrido, de uma vez por todas morreu para o
pecado. Paulo afirma que esta morte para o pecado, tanto é uma experiência de
todo cristão quanto também foi a experiência de Cristo. Assim como Cristo
morreu para o pecado, nós também morremos para o pecado. Ora, Cristo não
morreu para o pecado no sentido de chegar a ser insensível ao pecado, de não
pecar mais, porque Jesus nunca pecou. A Bíblia afirma categoricamente, e
sabemos disso, que nEle não há pecado algum! Portanto, a morte de Jesus para
o pecado não poderia significar essa insensibilidade para não pecar, já que
Ele nunca pecou.
É
preciso entender que a Bíblia coloca em conexão o pecado e a morte, no
sentido de que a morte é a paga pelo pecado. É a recompensa justa por uma
ofensa. Porque o salário do pecado é a morte, afirma o apóstolo Paulo (Rm
6:23).
Nas
Escrituras fala-se mais da morte, não em termos físicos, mas muito mais em
termos morais e legais, não como se referindo ao estado imóvel de um cadáver,
mas como à sanção severa, porém justa, do pecado. Cristo morreu para o pecado
quando sofreu o castigo por ele. Cristo morreu para o pecado quando Ele então
pagou e sofreu o castigo pelo pecado, não dEle, mas pelos nossos. O profeta
Isaías afirmava através da sua expressão prévia acerca do Messias: Ele levou
sobre si as nossas dores e pelas Suas pisaduras nós fomos sarados(53:5).
Cristo morreu para o pecado quando pagou na cruz do calvário pelos nossos
pecados. A partir desta situação, a morte de Jesus foi este pagamento e o
pecado e a morte já não tem direito algum sobre Cristo. Assim, quando
morremos para o pecado em Cristo, sofremos em Cristo o castigo pelo pecado e
o pecado já não tem mais direito algum sobre nós. O domínio dele foi
destruído, foi vencido. A paga do pecado foi determinada ali na cruz do
calvário. No batismo é simbolizada a nossa morte para com o pecado que se realiza
pela nossa identificação com Jesus Cristo. É uma morte legal relativa à
penalidade pelo pecado. Já não somos escravos do pecado. Nós mudamos de dono.
O nosso senhor não é mais o pecado e a morte. O nosso senhor é Jesus Cristo.
Deus nos diz: tu és meu. Morrer para o pecado implica em que Deus reassume o
domínio sobre o homem.
Nós
podemos entender um pouco mais essa perspectiva teológica e bíblica acerca da
morte para o pecado pensando um pouco, obviamente aqui por analogia, sobre a
justiça civil. A única escapatória para um homem condenado por um crime e
cuja sentença é um período de encarceramento, é que ele vá ao cárcere e pague
a penalidade. Uma vez paga ele pode sair do cárcere, abandonar o cárcere, não
precisa mais ter medo da polícia, não precisa mais ter medo da lei, não
precisa mais ter medo dos juízes. A lei não tem nada mais contra ele, não tem
mais direitos sobre aquele crime cometido por ele por que ele já pagou a
penalidade de sua infração. Nós não pagamos pelo nosso pecado. Jesus pagou na
cruz do calvário pelos nossos pecados e na medida em que ele pagou, isso
então significa que estamos mortos para o pecado. O pecado já perdeu os seus
direitos sobre nós. O batismo é um funeral, é um indicativo. Morremos com
Cristo, morremos para o pecado, já não somos escravos do pecado. O pecado já
não tem direito algum sobre nós.
II) O
IMPERATIVO
Paulo
entretanto, afirma também, neste texto um imperativo. Paulo não diz apenas
que o batismo simboliza o indicativo da morte com Cristo para o pecado. Paulo
também afirma um imperativo. No verso 12 ele diz: não reine o pecado em vosso
corpo mortal, no verso 13 ele diz: não apresenteis os vossos membros ao
pecado, no mesmo verso 13 ele diz: apresentai-vos a Deus, no verso 19 ele
diz: apresentai os vossos membros como servos da justiça. Quando Deus diz: tu
és meu nós também somos reclamados a Ele como propriedade dEle. Quando
dizemos: eu sou Teu, na entrega de nossas vidas nas mãos dEle, então estamos
respondendo a essa verdade. O imperativo tem o seu fundamento no indicativo;
só é possível viver o imperativo quando se compreende o indicativo. Só é
possível viver a vida cristã, quando se passou pela experiência da morte com
Cristo, a morte para o pecado. No indicativo é afirmado que morremos com
Cristo, no imperativo é afirmado que pertencemos a Jesus Cristo.
Aqui
Paulo não está trazendo de volta um legalismo, não está Paulo aqui dizendo
que a salvação é pelas obras. Não está dizendo que nós vamos agora nos tornar
aquilo que deveríamos ser na medida do nosso esforço, o que Paulo está
dizendo é que nós andamos agora a partir da nossa nova situação, da nossa
identidade, a identidade nova que ganhamos em Cristo. Paul Tillich afirmou em
certa ocasião que: a história das religiões é a história das tentativas do
homem de salvar-se a si mesmo, bem como do fracasso resultante disso
(P.Tillich, Teologia Sistemática, pg. 306).
Não
estamos então reafirmando aqui que tentaremos viver por nossos próprios
esforços de experimentar a salvação, porque somos incapazes disso; a história
o comprova. Estamos aqui a partir da perspectiva paulina afirmando que nós
não somos o que somos por que fazemos o que fazemos, mas que fazemos o que
fazemos porque somos o que somos. O fruto é conseqüência da natureza da
árvore. Pois outrora éreis trevas, - diz Paulo mas agora sois luz no Senhor,
e Paulo não para aí, mas conclui: portanto andai como filhos da luz. (Ef.
5.8). Ele afirma o indicativo, mas também o imperativo.
A
preposição usada para o batismo é muito importante. Não é a preposição em -
batizados em Cristo - mas é a preposição eis (grego), que significa muito
mais para Cristo. Isso quer dizer que o entendimento maior é que seríamos
batizados para Cristo, para uma novidade de vida, para uma nova vida. O
batismo celebra e simboliza esta morte para o pecado, mas também essa
ressurreição para uma nova vida.
Fomos
batizados para Cristo Jesus. Nós somos filhos de Deus, filhos da luz e por
isso é que devemos viver para Ele. Foi por isso que Ele nos deu o seu
Espírito Santo que reside em nós, para nos ajudar em nossas fraquezas (Rm
8.2), e para que possamos de fato andar como filhos da luz.
A
nossa biografia está escrita em dois volumes: o primeiro volume conta a nossa
vida antes da conversão, do velho homem, do antigo homem sobre o qual o
pecado tinha todo direito. A segunda, conta a vida do novo homem. O primeiro
termina com a morte judicial. O segundo inicia-se com a nossa ressurreição. O
primeiro livro, no momento em que creio, em que aceito, em que entrego minha
vida a Jesus está concluído e encerrado, morri para o pecado. Agora é a hora
de abrir o segundo livro.
O
que Paulo está dizendo aqui é que não permitais que o pecado seja o vosso
rei, não permitais que ele vos governe que ele vos oriente o caminho e a
vida. Vocês agora têm um novo dono, vocês agora pertencem a um novo rei,
vocês agora são filhos da luz. O batismo celebra o indicativo morremos com
Cristo, morremos para o pecado. O batismo celebra a novidade de vida, e o
desafio de vivermos a cada dia como filhos da luz. Vida cristã não é só
indicativo. No indicativo Deus diz: tu és meu, e no imperativo nós dizemos:
eu sou teu. O batismo não é mera formalidade, não é expressão teatral,
dramática. O batismo celebra uma experiência profunda, uma experiência no
indicativo que nos indica que morremos com Cristo. Mas também uma experiência
no imperativo que nos indica que vivamos em novidade de vida.
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